Começou um dia (todas as estórias têm um dia em que algo ocorre) por ser um espaço amplo, deserto de estruturas, seres ou denominados aglomerados de papel a que, posteriormente, se conheceu por ter o nome de: livros.
Nasceu livre aquele local. Livre e deserto de saberes. Nem uma folha impressa, escrita por ali subia ou descia ao sabor do vento, com ou sem a leve brisa do tempo.
Os primeiros anos foram passando à medida que se aperfeiçoaram os sentidos, e as aprendizagens surgiam, na mesma dimensão, aliando as imagens e os sons à memória que se começou a disciplinar.
Aos três anos já se identificavam letras e se soltavam palavras. Aos cinco, o nome se escrevia: biblioteca entre algumas incertezas que se dissiparam à medida que já se tocavam os livros, os cadernos.
O espaço que outrora estava amplo começava a ter umas quantas estantes, respigando meia dúzia de elementos físicos, próprios e específicos de uma verdadeira biblioteca.
Os anos foram reunindo experiências, saberes, áreas e métodos, e, na mesma proporção o espaço era cheio de livros infantis, juvenis e literários.
Nestes anos, a luz dos candeeiros, os recreios e espaços públicos, a sombra das árvores foram cúmplices desse saber, dessa biblioteca que crescia acumulando as folhas impressas em livros cozidos e colados.
A biblioteca era agora um campo aberto onde o horizonte não tinha limite, as personagens não tinham estória fixa para constar ou para incorporar, e as portas abertas eram sinónimo de presença humana, convívio, partilha de saberes, experiências, vivências e conhecimento.
Essa, essa essência da biblioteca que vive dentro de cada um de nós, que cresce à medida que avançamos no percurso de vida, reflecte o saber, os mil e tantos mundos, as únicas e singulares histórias de tantas personagens imaginadas, imaginárias, imaculadas no nosso pensamento, por em nossa memória permanecerem.
Foram-nos dadas, foram criadas e são a cada dia que passa, um novo mundo, um outro mundo onde bebemos, onde crescemos, que abrimos a nós e aos outros.
A biblioteca do nosso viver tem todas essas estantes. Com livros. E cada uma delas, dessa biblioteca, situam-se em diferentes espaços, catalogada ou indiferenciada, com mesas e cadeiras, com computadores ou sem eles, com livros com e sem pó, e, mesmo que desses dez, vinte, quarenta ou cem títulos possam ser coincidentes, todas elas (bibliotecas) são únicas.
A biblioteca de cada um de nós tem vida pelo raciocínio, pela partilha, pela exploração de cada canto, de cada instrumento, de cada nova tecnologia complementar à história impressa, ao livro prensado e colado.
Esta estória mais não é do que uma metáfora sobre o crescimento humano, alimentado pelo saber dos livros, e que em cada um de nós existe no virtual do nosso cérebro e no físico de cada biblioteca que possuímos. Nas nossas, e em todas as outras que foram nossas, por lá termos passado, vivido e aprendido.
João Heitor
1 comentário:
Uma forma diferente, inteligente e unica de olhar/definir uma Biblioteca...a que existe em cada um de nós, no livro unico da nossa vida...
Adorei!:)
Vaps
Enviar um comentário