sábado, 18 de novembro de 2006

...

Pai. No Gavião, cortaram os eucaliptos.

Porém, as folhas dos plátanos, ano após ano, continuam a cair.

Tal como as saudades. Que não caem. Sentem-se.

Saudades de até quando me contrariavas.

E tinhas razão em muita coisa.

Avisavas-me.

Como que querias poupar-me ao embate das “pancadas da vida”.

E nestes últimos quatro anos tenho-os sentido.

Mas, de pé.

Ainda que com as pernas a fraquejar, por vezes.

Que um homem fraqueja, como ser humano, falível e sentimental.

Essas coisas dos homens serem fortes, só nas películas dos filmes devem existir...

Ou, se fortes homens há, no silêncio da noite devem chorar, às escondidas.

Eu, de peito aberto, como sempre, e com as vicissitudes que isso comporta, cá vou andando.

Umas vezes bem, outras, revoltado.

Sabes, as injustiças são cada vez maiores.

Os conhecidos aumentam, à medida que percorro outros caminhos.

Mas, os amigos vão diminuindo.

Provavelmente, há vários anos que assim era.

Eu é que não tinha dado conta...

Talvez as relações humanas estejam diferentes.

Tal como a rotatividade da Terra e a ilusão que as nuvens nos dão...

Já estou a divagar.

E tu, que sempre me quiseste com os pés bem assentes na terra.

Nada melhor, pai.

Pés firmes e de cara erguida.

Não pela prepotência, que aqueles que a trazem, tristes figuras fazem de si.

Mas, pela tranquilidade de assumir e praticar os valores fundamentais que tu me transmitiste.

Cá continuam.

Sólidos, como os laços sinceros.

Os valores presentes nos actos.

Tenho limitado os sonhos utópicos ao significado mais singelo que o dicionário lhe atribui. A utopia…

Já vai longo este monólogo, pai.

Todavia, desde há quatro anos que recordo todos os dias o teu olhar e a carícia das tuas mãos, quando, com ternura, me tocavas no rosto…

3 comentários:

chloe disse...

Por cada estrelinha que brilha...lá d cima olham-nos com a maior das ternuras, sempre de mão esticada a amparar as nossas quedas.


Beijinho Grande Inês

Bruno Gomes disse...

Amigo João, Homem de coragem, de ideais, de justiça, de perserverança.
Julgo todos estas qualidades serem suficientes para te manterem equilibrado.
Força, a Justiça existe, é algo Universal. Mais tarde ou mais cedo ela acaba por se fazer ver.
Um forte abraço.

João Caldeira Heitor disse...

Obrigado amigos.