Que 2010 seja um ano de ligações:
nos afectos;
nas relações sociais;
na profissão;
na orgânica intrínseca de cada um de nós.
É aquele que nos alimenta e nos reforça. O que emerge do nosso ser face às turbulências sociais, políticas, económicas e pessoais, que dia a dia nos molham, nos aquecem e nos gelam. Com toda a nossa Alma, que nos alimenta o coração e o pensamento!
"Não é a espécie mais forte que sobrevive, nem a mais inteligente, mas aquela
que reagir melhor às mudanças" Darwin
(Ad Universi Terrarum Orbis Summi Architecti Gloriam)
Um pensamento para reflexão nesta época em que todos se amam e desejam paz (a chamada trégua), para regressarem ao mecanicista reinante sistema de vida em Janeiro de 2010…
Neste fim de semana, ao sair de uma superfície comercial encontrei um bom amigo que se fazia acompanhar da esposa e filha.
Não vale a pena referir o seu nome, até porque as verdadeiras amizades, que nos ligam pelos afectos, não precisam de referências nominais. Bastam, somente, as sentimentais.
E, de sentimento se trata.
De admiração pela pessoa simples e franca.
Objectiva e profunda em sabores e sensações, pelas artes do falar, do ler e do escrever.
Engana-se quem julga que só quem escreve um livro, é que é escritor.
Mais do que ler, saber ler, saber de quem se lê, de quem se ouve, espelha uma imagem muito mais nítida de quem nós somos.
Este amigo, vencedor na vida que conquista dia após dia, (e com o qual teimo em adiar o jantar há quatro anos apostado), tem um sorrir espontâneo e aberto.
É um homem livre e de bons costumes, sem que tenha sido iniciado, mas que o é por natureza intrínseca.
Viu-me crescer. Com ele, ainda que com a distância física e do convívio, edifiquei o meu ser.
E a nossa riqueza, é termos, com carinho e amizade, pessoas como ele.
Que consigamos jantar este ano!
Um abraço
Cada ofício tem uma tarefa.
Cada tarefa, e ofício, tem a sua caixa de ferramentas.
Saber usá-la fará do artífice capaz ou não, de, em boa fé, receber a jorna pelo seu trabalho.
Nestes novos processos tecnológicos, onde os fluxos digitais ultrapassam os saudosos momentos em que a abertura de espírito e alma nos convenciam que as conversas eram nossas, correm agora outros tempos.
Outros, ou os mesmos, aliados aos cabelos brancos que aumentam em ambas as cabeças, sem que a minha seja ou eu desejo que seja – pensante.
Despropositado, este comentário, mas sempre em e de boa fé, alertam-se os vizinhos, os amigos, os camaradas e os padrinhos.
Até porque da caixa de ferramentas já saltaram textos mais ou menos pessoais, globais, locais, secretos, audaciosos, pecadores e ousados…
Não se duvida de ninguém.
Não se quer ser primeiro, nem tão pouco especial, único, supremo ou americano.
Elevemos, então, a conversa.
Consiste na repetição de uma ideia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.
socorram-me, subi no onibus em marrocos.
anotaram a data da maratona
assim a aia ia a missa
a diva em argel alegra-me a vida
a droga da gorda
a mala nada na lama
a torre da derrota
luza rocelina, a namorada do manuel, leu na moda da romana: anil é cor azul
o céu sueco
o galo ama o lago
o lobo ama o bolo
o romano acata amores a damas amadas e roma ataca o namoro
rir, o breve verbo rir
saíram o tio e oito marias
zé de lima rua laura mil e dez
Talvez me tenha esquecido de alguns, depois de, conscientemente, ter separado os amigos dos conhecidos.
Se bem que conhecidos possam ser muitos, os amigos são sempre menos.
Isto porque a amizade impõe um conjunto de processos, que só o tempo, o camuflar das acções e das provas partilhadas e vividas, nos permitem saborear tal valor: a amizade.
Talvez seja como o vinho. Só algum tempo de repouso, após as uvas terem sido esmagadas, e na pausa do tempo cuidado com a sabedoria de quem o faz, tenha o paladar que faz as delícias dos seus apreciadores.
O vinho. Aquele que se saboreia com um amigo.
Não sei porquê, mas quando escrevo ou ouço a palavra vinho, lembro-me sempre da expressão “o pão e a vida… cálice…” do vinho, ou da vida.
Talvez por isso tenha escolhido esta foto que tirei, um dia, do cimo de um altar de uma igreja.
Aos olhos de muitos, aquilo que dizem ser a Santíssima Trindade.
Nem outra coisa podia ser.
Seríamos hereges ao duvidar de tal explicação.
Até porque, o desconhecimento, continua, após séculos e séculos a favorecer determinadas classes.
Falta de fé? Não. Azia. Combate-se com Kompensan, eu sei, mas hoje nem um chá de digestão fácil me acalma a inquietação da alma, do espírito e da lógica racional das coisas.
Exigente? Não. Ou, talvez sim. Comigo. Demasiado. Ao ponto de fazer cumprir certas linhas e certos objectivos, que mais não são do que representações lógicas do pensamento alicerçado sobre os barrotes dos valores intrínsecos.
E vale a pena continuar assim? Valerá. Pela tranquilidade da consciência e do dever cumprido.
Regressando aos amigos de quem me lembrei, faço o acto reflectido do sorrir, pela espontaneidade das relações e laços estabelecidos, ainda que as distâncias existam.
Por último uma palavra a um amigo especial. A um amigo a quem não tem faltado a rectidão das palavras e dos actos. Uma palavra a quem tem usado os instrumentos e traçado as linhas sem um único desvio. A quem depois de retirada a venda me deu um abraço. Já se acredita menos, no que lá fora se vive e passa. Mas, entre a família que se conta pelos dedos de um pé ou de uma mão, que não nos falte a força para usar o escopro.
Que assim seja!
Dos Arquivos da Torre do Tombo, Armário 5, maço 7.
Sentença proferida em 1487 no processo contra o prior de Trancoso
"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos. Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".
"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo”