quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Dispensando mentes brilhantes...



De fio, sem pavio, a lua estica-se. 
Sem rede, na corda, alta, arrisca-se. 
De pé dobrado, com medo, avança-se. 
O corpo trémulo, vacila e equilibra-se. 

No circo, da vida, desprezamos os importantes. 
No circo, da vida, aplaudimos o esforço. 
No circo, da vida, dispensamos mentes brilhantes. 
No circo, da vida, valorizamos os normais. 

Voltando ao trapézio lá do alto. 
No ar rarefeito, sugado em compasso. 
Somos tempo contado em emoção. 
Somos pessoas libertas com ou sem razão.


João Caldeira Heitor

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Reescrever o amor...


Amor.
Esse sentimento da raça humana.
Perdido, por terem deixado de viver os limites do sentir,
Esquecido, por terem deixado de dançar na rua,
Barrado, por terem deixado erguer fronteiras,
Condicionado, por imporem comportamentos sociais...
Mesmo que as estrelas nos continuem a guiar,
Mesmo que as estrelas nos continuem a mostrar uma saída,
Só o acreditar nos faz caminhar, 
Percorrer, 
Lutar, 
Sobreviver,
Para reescrever no céu, na escola, no coração o que é o amor…

João Caldeira Heitor

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sentimento...


Sentimento.
Esse devir interno, exteriorizado.
Vincado, nas máculas da linha errante.
Hoje, não me meçam o semblante.
Carrega o peso dos anos, pesados.
Arrasta a ausência, sentida.
Pai há um, nesta vida.
E como a ternura, reclama.
E como a herança, cobra.
E como a memória, atraiçoa.
E como a impotência, nos castra.
Limitado sobre a história, escrita.
Conformado com o destino, traçado.
Não há lápide que honre o sentir.
Pois de pedra não é feito o coração.
Sou sentimento, bruto, de emoção.
Choro por dentro e escrevo para fora.
Sorrio ao olhar-me ao espelho.
Nele te encontro e nele te vejo.
Somos feitos da mesma matéria.
Traçados sobre a mesma tela.
Unidos em laços de sangue eternos, meu pai, meu amigo, meu Irmão.

António Alves Heitor
14/04/1943
18/11/2002

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Miolo de pensar...


Esse, de pensar e de fazer. 
Magoado no coração e emotivo. 
Sem bússola racional, ficou perdido. 
Procurado, mas logo esquecido. 
Conta os desejos frustados. 
Divide a mágoa pelos dedos. 
E olha fixamente o vazio, tremido. 
As lágrimas não o deixam ver.
A cegueira não o deixa falar. 
A raiva não o consegue deter,
De pensar, de ter, de a amar.
Sem casca que o possa cobrir. 
Sem resguardo que o possa amparar.
É soldado ferido.
É vagabundo perigoso,
Ferido por dentro, 
Consumido de amor...

João Caldeira Heitor

sábado, 3 de outubro de 2015

Tu...


Tu.
Chegaste. 
Deixas um pouco de ti, em mim. 
Com algo e sem nada. 
Nestes instantes registo e esqueço, 
O que me queiras dizer,
O que queiras guardar. 
O que possa ser,
O que me deixes viver. 
Contigo e sem ti.
E no vazio ficar.
Amarrado ao sentimento,
Vazio no olhar, frio, por dentro.
São saudades de há dias, 
São amarras ferrugentas, 
São sonhos de paixão.
Diluídos em álcool e suspiro. 
Evaporados, no chão…

João Caldeira Heitor

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Como se os dias tivessem eternidade...


Por aqui, já não deslizam cartas...
Quem não as procura, delas não sente saudades.
Quem não as escreve, delas nunca bebeu amor.
Quem nunca as rasgou, nelas nunca escreveu.
Como se os desabafos não fossem escritos...
Como se as lágrimas não fossem corretor humano...
Como se os sorrisos não fossem o espelho do conteúdo...
Como se os suspiros não fossem sensações despertas...
Como se o toque não se sentisse, pelo sentimento expresso...
Como se os dias tivessem eternidade...
Como se a vida se repetisse...
Não há correio...

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Tolerar o irracional sentir...



Eu pensava que fosses tu,
De quem eu fugia,
Sem parar e olhar para trás,
Riscava o teu nome do meu pensar.

Entre o silêncio e o vazio das sombras,
Percebi a tua promessa,
De não ter mais de correr, com pressa,
Pois ali me deixaste ir…

Nessa minúscula de fração,
Percebi que já era tarde,
Para te abraçar e te prender,
Como pedia o fundo do meu coração…

Ressoou, naquele momento, o silêncio.
Fiquei calado, pendurado, estatelado,
Vi o chão a espelhar o meu rosto,
Molhado, de lágrimas, por não me teres segurado...

João Caldeira Heitor

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Ei, tu aí...



No espelho se reflete o rosto,
No sorriso se reflete a alma. 
...
Onde somos crianças crescidas,
Ganhamos, sonho.
Onde perdemos companhia,
Ganhamos, amizade.
Onde afirmamos intensidade,
Ganhamos, respeito.
Onde somos íntegros,
Ganhamos, honra.
...
(A liberdade de estarmos apaixonados pela vida e de a saborearmos ao lado de "pessoas", é a recompensa por pertencermos a nós próprios.
Quem só está rodeado por "gente" e refém de interesses umbilicais, jamais conseguirá sorrir espontaneamente.)
...
Onde conquistamos confiança,
Ganhamos, vida.
Onde geramos energia,
Ganhamos, cumplicidade.
E assim, onde somos, por quem somos e o que somos, aos outros podemos dar...



João Caldeira Heitor

quarta-feira, 4 de março de 2015

Injustiça da "justiça"...


Muito se falou, fala e falará na “justiça”, enquanto suporte e meio de funcionamento da sociedade.

Na “justiça”, na importância desta, nas diversas faces que nos apresenta, e na sua ausência, ou insuficiência.

As comunidades/terras/concelhos foram recebendo “tribunais”, pelo número de habitantes, pelas atividades económicas e nas relações destes, à luz das leis.

O que se quebrava, e quebra, na comunidade, na comunidade deve ser restabelecido.

Racionalizar a “justiça” não devia passar pelo encerramento de serviços. Para agir dessa forma, fechando valências, traçando mapas regionais e nacionais, díspares de outras estruturas administrativas, económicas e políticas, qualquer ex-aluno, de uma qualquer República, sem o curso terminado, o conseguia fazer.

As tecnologias e as estruturas em rede são fundamentais para a desburocratização do sistema, facilitando o acesso à justiça, auxiliando o desenvolvimento económico e o cumprimento deste direito basilar.

O caos no programa Citius e o número de processos que se acumulam nos tribunais (que vão restando), transmitem para a opinião pública uma sensação de impunidade, de ausência de justiça, e de controlo desta pelo poder económico, político e gripal.

Sim gripal. Pela fragilidade e vulnerabilidade da estrutura e dos mecanismos de adiamento, arrastamento e prescrição conhecidos e praticados por todos.

Reformar a reforma da justiça em Portugal não se assume por uma mera questão ideológica ou política, mas, tão-somente, pela necessidade de recolocar os serviços judiciais, junto das populações e das terras que compõem este pequeno, e grande Portugal.

O grande Portugal onde as dicotomias sociais se agudizam para prejuízo dos mais desfavorecidos, desempregados e, até mesmo daqueles que seriamente seguem o seu caminho, mas tantas vezes precisa de recorrer à “justiça”, perante os "injustos".

O mundo nunca será perfeito, mas sem “justiça” ele nem sequer terá futuro…

João Caldeira Heitor

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Quem avalia, sob a tutela de quem é avaliado?


A qualidade do ensino público depende de vários fatores que são garantidos pelos professores, em cada agrupamento de escolas, com o apoio da respetiva comunidade escolar e sob a orientação do ministério, de forma a concretizar o fim inerente ao conceito de educação, onde o aluno é o objetivo primeiro, e último, em toda a estrutura.

A par deste sistema, que só funciona de forma articulada, objetiva e séria, a Inspeção Geral de Educação assume funções de avaliação, de aconselhamento, de prevenção e de análise de procedimentos, aferindo, assim, o cumprimento do dossier legislativo e regulamentar que suporta o setor educativo e todos os seus protagonistas.

Na lógica dialética do dia-a-dia, vários profissionais da Inspeção Geral de Educação têm-se aposentado, sem a devida substituição, verificando-se desde 2010 um decréscimo do número de inspetores em todo o território nacional.

Paralelamente, e nos últimos 3 anos, temos assistido à degradação dos recursos técnicos, à retirada de competências e à redução do orçamento deste organismo, com um real decréscimo da qualidade do serviço prestado.

O atual governo conhece este cenário, que em nada abona o processo de avaliação da qualidade do ensino público, mas nada faz…

A Inspeção Geral de Educação, ainda que necessitada, conta com profissionais e dirigentes que diariamente se empenham para colmatar as irresponsabilidades do Estado.

Ainda que a Inspeção Geral de Educação tenha como missão avaliar o funcionamento do Ministério da Educação, não se entende como é que esta organização se encontra sob a alçada da Secretaria de Estado da Administração Escolar.

Questiona-se, desta forma, ao ano de 2015, e pertencendo Portugal a uma construção denominada: União Europeia, a regularidade deste organograma, condicionada nas correlações entre o poder político e o cumprimento administrativo-legal.


João Caldeira Heitor

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Nesse tempo que decorre, agora, e sempre...


A volatilidade da vida tem-se apresentado cada vez mais como a constante, onde os minutos abafam as riquezas de cada oportunidade de sermos, quem somos...

O arrependimento, de nada e de tudo, só encontra oposição nos segundos que multiplicam a respiração, sobre os minutos sugadores da luz…

João Caldeira Heitor