quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Na sombra do cipreste.


Calor de hoje que as pedras repelem,
Na conversa que custa a sair,
Não há palavras que consigam exprimir,
O alterado semblante que referem. 

Aqui não passam aviões,
Cantigas, piadas, risadas. 
Aqui recordam-se emoções,
De estórias vividas, partilhadas. 

Calor de hoje que (eu e) as pedras repelem,
São monólogos do corpo e da alma,
Momentos de peito aberto e pestanas cerradas,
Para deixar as gotas salgadas rolarem. 

Aqui não passam modas,
Alegrias, festas, ilusões. 
Aqui há respeito, memórias, contusões,
De quimeras e glórias ilusórias. 

Calor de hoje que à pouco referi,
Contrasta com a incompreensão sensorial,
Do que sou e não sei alterar,
Do que fui e por isso vivi. 

Calor de hoje que à pouco referi,
Tem travo amargo, é opinado,
Do que está certo e errado,
Ditado é prescrito, mesmo sem ter concordado.

Calor de hoje que à pouco referi,
É gélido bater de coração,
Quando confrontado com o cenário trocado,
Quando esqueço a mágica inalienação. 

Na sombra deste cipreste,
Onde se encontra a força,
Está a história a que pertenço,
Que prolongarei no destino do tempo. 

Certo ou errado,
Não mudo a cor do cenário,
Não me disfarço de alegre e forte,
Humano, por fora e por dentro.



João Caldeira Heitor

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Há anjos no céu e na terra?


Há quem queira e não possa agarrar esse teu corpo preso,
que parece solto,
pois na certeza,
 só pelo coração te deixas conquistar.

Ali foste um momento,
entre tantos ou nenhuns,
sem se aperceberem,
o nosso cúmplice silêncio.

Aí estás sem que saiba como,
talvez realizada,
talvez sofrida,
sem saber evitar o julgamento do teu sentir.

Dizes que tens asas de anjo,
mente de demónio e talvez coração de princesa,
como se disso tu própria saibas ou tenhas certezas.

Em cada amanhecer agita-se esse outro mundo,
onde vestes a capa que impede a ousadia e a tentação,
onde perduras na bola de cristal,
onde te mostras doce e simpática.

Passam-se os anos e lá nos vamos perdendo ou caminhando,
sobre um qualquer mandamento errante,
de encontros e desencontros ocasionais,
sem te chegar a tocar.

Mas um toque sublime,
que se sente pela alma,
como uma luz que nos atrai
e nos afasta com medo do que daí pudesse surgir.

Regressa ao teu mundo,
que não posso nem quero alterar,
pois não consigo,
nem vejo como sequer te poder tocar.

Os anjos têm missões,
os demónios as tentações,
as pessoas emoções,
mesmo que no passar do tempo tudo não passe de um punhado de ilusões…



João Caldeira Heitor