domingo, 28 de janeiro de 2007

Carta a Miguel Sousa Tavares

«Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ler textos escritos pelo jornalista Miguel Sousa Tavares. Anoto que escreve sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo quando depois se verifica que conhece mal os problemas que aborda. É o caso, por exemplo, dos temas relacionados com a educação, com as escolas e com os professores. E pensava eu que o código deontológico dos jornalistas obrigava a realizar um trabalho prévio de pesquisa, a ouvir as partes envolvidas, para depois escrever sobre a temática de forma séria e isenta.
O senhor jornalista e a ministra que defende não devem saber o que é ter uma turma de 28 a 30 alunos, estando atenta aos que conversam com os colegas, aos que estão distraídos, ao que se levanta de repente para esmurrar o colega, aos que não passam os apontamentos escritos no quadro, ao que, de repente, resolve sair da sala de aula. Não sabe o trabalho que dá disciplinar uma turma. E o professor tem várias turmas. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra deva saber) o enorme trabalho burocrático que recai sobre os professores, a acrescer à planificação e preparação das aulas. O senhor jornalista não sabe (embora devesse saber) o que é ensinar obedecendo a programas baseados em doutrinas pedagógicas pimba, que têm como denominador comum o ódio visceral à História ou à Literatura, às Ciências ou à Filosofia, que substituíram conteúdos por competências, que transformaram a escola em lugar de recreio, tudo certificado por um Ministério em que impera a ignorância e a incompetência.
O senhor jornalista falta à verdade quando alude ao «flagelo do absentismo dos professores, sem paralelo em nenhum outro sector de actividade, público ou privado». Tal falsidade já foi desmentida com números e por mais de uma vez. Além do que, em nenhuma outra profissão, um simples atraso de 10 minutos significa uma falta imediata. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra tenha obrigação de saber) o que é chegar a uma turma que se não conhece, para substituir uma professora que está a ser operada e ouvir os alunos gritarem contra aquela «filha da puta» que, segundo eles, pouco ou nada veio acrescentar ao trabalho pedagógico que vinha a ser desenvolvido.
O senhor jornalista não imagina o que é leccionar turmas em que um aluno tem fome, outro é portador de hepatite, um terceiro chega tarde porque a mãe não o acordou (embora receba o rendimento mínimo nacional para pôr o filho a pé e colocá-lo na escola), um quarto é portador de uma arma branca com que está a ameaçar os colegas. Não imagina (ou não quer imaginar) o que é leccionar quando a miséria cresce nas famílias, pois «em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão».

O senhor jornalista não tem sequer a sensibilidade para se por no lugar dos professores e professoras insultados e até agredidos, em resultado de um clima de indisciplina que cresceu com as aulas de substituição, nos moldes em que estão a ser concretizadas.

O senhor jornalista não percebe a sensação que se tem em perder tempo, fazendo uma coisa que pedagogicamente não serve para nada, a não ser para fazer crescer a indisciplina, para cansar e dificultar cada vez mais o estudo sério do professor. Quando, no caso da signatária, até podia continuar a ocupar esse tempo com a investigação em áreas e temas que interessam ao país. O senhor jornalista recria um novo conceito de justiça.
Não castiga o delinquente, mas faz o justo pagar pelo pecador, neste caso o geral dos professores penalizados pela falta dum colega. Aliás, o senhor jornalista insulta os professores, todos os professores, uma casta corporativa com privilégios que ninguém conhece e que não quer trabalhar, fazendo as tais aulas de substituição. O senhor jornalista insulta, ainda, todos os médicos acusando-os de passar atestados, em regra falsos. E tal como o Ministério, num estranho regresso ao passado, o senhor jornalista passa por cima da lei, neste caso o antigo Estatuto da Carreira Docente, que mandava pagar as aulas de substituição. Aparentemente, o propósito do jornalista Miguel Sousa Tavares não era discutir com seriedade. Era sim (do alto da sua arrogância e prosápia) provocar os professores, os médicos e até os juízes, três castas corporativas. Tudo com o propósito de levar a água ao moinho da política neoliberal do governo, neste caso do Ministério da Educação.
Dalila Cabrita Mateus, professora, doutora em História Moderna e Contemporânea».


sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Próximos tempos

É por aqui, já desde quarta-feira, que tenho estado.

Daí a minha ausência.

Estou a dar aulas a duas turmas na EB São João Baptista.

São poucas horas e por pouco tempo, mas dá para me sentir realizado enquanto professor.

Dar aulas, e o gosto de as leccionar, é o que me prende ao ensino.

Isto porque estou a 200km de casa. Tive de alugar quarto e passei a ter umas extensas despesas de deslocação...

Apesar de estar a trabalhar, para pagar as despesas todas, sinto-me bem, enquanto professor e enquanto homem.

Campo Maior é uma Vila bonita!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Espelho retrovisor

Não passo muito tempo à frente do espelho.

E assim, por vezes ando com a barba maior, o cabelo meio despenteado e as patilhas por acertar.

Mas, à noite, durmo com a consciência tranquila.

Há quem se olhe muito ao espelho.

Por fora brilhe, distribua sorrisos e bom aspecto.

Mas, será que têm a consciência tranquila?

Será o espelho de vidro a reflectir a alma do ser humano, ou serão os passos a ilustrar os caminhos mais certos?

Desabafos no diário virtual

"Não tenho a pretensão de ensinar aqui o método que cada um deve
seguir para bem conduzir sua razão. Procuro, apenas, humildemente,
mostrar o modo como tanto me esforço, sem descanso, para conduzir a
minha".

René Descartes

E com este pensamento, justifico a razão da minha ausência nestes últimos dias.

No asfalto da vida e nos hospitais da região.

Tudo terminará em bem.

Contudo, a razão humana, individual e colectivamente partilhada, nem sempre se orienta pelo mesmo horizonte, pela mesma educação, pelo mesmo profissionalismo e pela mesma finalidade.

Aí, perdemos todos. Uns, a crença. Outros, o valor.

Eu fico-me pelo “humildemente me esforço…”.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

... esta luta...

Já não sei se sou professor, se vendedor ou caixeiro-viajante.

Ontem fui entregar currículo a Faro.

Hoje a Lisboa, Sintra e Torres Vedras.

E já lá vão 66 cartas registadas…

A 2.20€ cada…

A luta continua!


terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Caso para os Ficheiros Secretos

Um carro invisível veio de não sei onde, bateu no meu carro e desapareceu.

Professor

Se é jovem, não tem experiência;
Se é velho, está ultrapassado.

Se não tem carro, é um coitado;
Se tem carro, chora de barriga cheia.

Se fala em voz alta, grita;
Se fala em tom normal, ninguém o ouve.

Se nunca falta às aulas, é parvo;
Se falta, é um "turista".

Se conversa com outros professores, está a dizer mal do Sistema;
Se não conversa, é um desligado.

Se dá a matéria toda, não tem dó dos alunos;
Se não dá, não prepara os alunos.

Se brinca com a turma, é palhaço;
Se não brinca, é um chato.

Se chama a atenção, é um autoritário;
Se não chama, não se sabe impor.

Se o teste é longo, não dá tempo nenhum;
Se o teste é curto, tira a oportunidade aos alunos bons.

Se escreve muito, não explica;
Se explica muito, o caderno não tem nada.

Se fala correctamente, ninguém entende patavina;
Se usa a linguagem do aluno, não tem vocabulário.

Se o aluno reprova, é perseguição;
Se o aluno passa, o professor facilitou.

É verdade, os professores nunca têm razão... Mas se você conseguiu ler tudo até aqui, agradeça-lhes a eles…

Provérbio: Preso por ter cão e preso por não ter!


segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

É isso. Não mexas mais!

Este ano lectivo, pela primeira vez desde que terminei o curso, ainda não fui colocado.

Não fui, nem serei, tendo em conta que as colocações cíclicas efectuadas pelo Ministério da Educação terminaram em Dezembro de 2006.

Desde lá, e até à presente data, leio os jornais à procura das ofertas de escola.

Percorro os sites das Direcções Regionais de Educação em busca das ofertas de escolas.

Compro os jornais, imprimo currículos, certificados de curso, declarações de tempo de serviço prestado, fotocópias do bilhete de identidade e até do cartão do contribuinte… Com isto tudo já lá vai mais de uma resma de papel e um cartucho de tinta, para mais de 50 escolas... Algumas obrigam a que os candidatos se apresentem e formalizem a candidatura na secretaria. São filas e filas…

Outras não permitem o envio da candidatura via email ou fax, por contenção de despesas (veio escrito numa publicitação de oferta de horário num jornal de âmbito nacional…). Desconhecia que os emails recebidos se pagavam... (lol)

E passo dias a caminhar para os correios. Já me encontro com outros colegas, ao balcão, numa peregrinação incerta.

Correio normal, azul ou registado - pergunta o funcionário. Azul, pelo menos temos a certeza que chega dentro do prazo da vaga. Ou registado para ser efectivamente entregue.

Os custos monetários são significativos (papel, tinta, envelopes, selos, gasolina...)

Resta saber o que estarão agora a fazer os funcionários do Ministério da Educação, que até Dezembro publicavam as ofertas de horários nas colocações cíclicas...

Resta saber o que espera a população de uma classe docente desanimada e incrédula, face às constantes e inexplicáveis medidas que o Ministério vai processando, em nome de uma reestruturação, que efectivamente não consta no programa eleitoral do Partido Socialista, apresentado nas últimas eleições legislativas…

Resta saber se a profissão que abraçamos com gosto e determinação, será, ou não, aquela que contará com a nossa existência e trabalho num futuro próximo. Amanhã, daqui a um mês ou nunca mais.

Isto porque entretanto há uma vida para viver e outro trabalho a procurar.

E nesta situação já conheço algumas dezenas de colegas que desistiram do ensino e foram para outras áreas.

Mas, o pior, será daqui a uns 10 anos, quando o país precisar de professores e eles não existirem, tendo em conta os processos de reforma, o envelhecimento da classe e o congelamento dos cursos vocacionados para a educação.

E então aí, ou nessa altura, recrutem advogados, engenheiros, arquitectos e outros profissionais, para leccionar...

domingo, 14 de janeiro de 2007

Que garrafas?

A culpa do acidente não foi de ninguém, mas não teria acontecido se o outro condutor viesse com atenção.

E as garrafas?

Que garrafas?!?

sábado, 13 de janeiro de 2007

Modas ou falsidades...

"A sociedade estabelece requintes de vestuário e de culinária que
dispensam os de espírito".

Carlos Drummond de Andrade


quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Descrédito!

Recebi em casa, juntamente com a publicidade de um supermercado, um desdobrável, que aqui publico, que me envergonha enquanto católico.

Diz: “No ano em que se comemora o 90º Aniversário das Aparições de Fátima, Nossa Senhora chora…”?!?

Depois continuam num texto repleto de cinismo, usando a imagem de Nossa Senhora de Fátima, para levar as pessoas a votarem Não no Referendo sobre a Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez a 11 de Fevereiro.

Usar a fé, as convicções religiosas desta forma?

Quem o faz, só está a cavar um fosso mais profundo entre os cidadãos e a Igreja Católica.


Já não basta a Igreja Católica ser contra o uso do preservativo, agora usa a imagem da Nossa Senhora de Fátima num Referendo?!?

Então em Espanha, França e noutros países quem pratica o aborto é herege?

Será que a Nossa Senhora de Fátima vai castigar esses pecadores?!?


As pessoas que fazem estes folhetos deviam respeitar a fé e a Religião Católica, assim como os seus crentes!

Assim, estão a contribuir para o inverso!

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Sugestão Cinematográfica

Os afazeres pessoais e a procura de emprego não me têm dado muito tempo livre para colocar post’s com a frequência pretendida.

Todavia, aqui fica a sugestão para o próximo filme do Tom Cruise…

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Absolutamente normal!

Mais de 300 carros incendiados na noite de passagem de ano, em Paris e a polícia local acha normal, dada a data…?!?