quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Na sombra do cipreste.


Calor de hoje que as pedras repelem,
Na conversa que custa a sair,
Não há palavras que consigam exprimir,
O alterado semblante que referem. 

Aqui não passam aviões,
Cantigas, piadas, risadas. 
Aqui recordam-se emoções,
De estórias vividas, partilhadas. 

Calor de hoje que (eu e) as pedras repelem,
São monólogos do corpo e da alma,
Momentos de peito aberto e pestanas cerradas,
Para deixar as gotas salgadas rolarem. 

Aqui não passam modas,
Alegrias, festas, ilusões. 
Aqui há respeito, memórias, contusões,
De quimeras e glórias ilusórias. 

Calor de hoje que à pouco referi,
Contrasta com a incompreensão sensorial,
Do que sou e não sei alterar,
Do que fui e por isso vivi. 

Calor de hoje que à pouco referi,
Tem travo amargo, é opinado,
Do que está certo e errado,
Ditado é prescrito, mesmo sem ter concordado.

Calor de hoje que à pouco referi,
É gélido bater de coração,
Quando confrontado com o cenário trocado,
Quando esqueço a mágica inalienação. 

Na sombra deste cipreste,
Onde se encontra a força,
Está a história a que pertenço,
Que prolongarei no destino do tempo. 

Certo ou errado,
Não mudo a cor do cenário,
Não me disfarço de alegre e forte,
Humano, por fora e por dentro.



João Caldeira Heitor

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